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Metas de Ano Novo – a reflexão pode ser mais importante que a data

O ano de 2024 acabou de iniciar, e assim como todo início de ano, frequentemente nós sentimos uma empolgação em traçar metas e mudar diversos aspectos em nossas vidas. Na verdade, há alguns dias rabisquei algumas coisas que espero para 2024. Enquanto escrevia, me lembrei de quantas vezes as minhas listas foram imensas, e ao me deparar com elas no dia 31 de dezembro do ano seguinte, não havia cumprido nem metade. Lembro da frustração e a esperança que ficava de que no próximo ano seria diferente… e o problema aqui não é o tamanho da lista, ou não ter conseguido cumprir o que foi proposto – afinal, a vida nem sempre acompanha nossos desejos e muitas coisas fora do nosso controle acontecem dia após dia – mas hoje me pergunto qual a função de querer mudar tanta coisa, com pressa, de diversas áreas da vida, e depois de alguns meses simplesmente não ter mais “forças” para continuar com as metas.

Eu confesso que não sou do time que costuma achar que o Réveillon “só mais um dia no ano”, ou que nada pode mudar quando muda o calendário. Penso que justamente essa empolgação e os períodos de reflexão que começam lá em novembro podem ser muito benéficos no sentido comportamental. Se a data propicia que você reflita sobre seu passado, suas dores, seus objetivos e valores, a empolgação pode sim ser útil e benéfica para nós. O desafio aqui é como não depender exclusivamente dessa empolgação e da mudança simbólica do ano novo.

Ao pensar sobre as metas para o ano que se inicia, sugiro que a gente comece pelo ano que nos deixa: quais foram as dores e sentimentos mais difíceis? Eles apareceram com frequência? Qual o contexto?

Além disso, fico pensando que se existe algo incomodando e isso persiste há algum tempo, é importante olhar para o que o mantém: é muito difícil mudar um hábito, por exemplo, sem olhar para a motivação – e aqui me refiro ao motivo para ação, e não o sentimento – sem olhar para o ambiente a sua volta e pessoas que o cercam, para a qualidade de vida, para os seus horários, seus exames físicos, sua saúde mental… é uma rede que compõe um comportamento, e ela é muito maior que nosso desejo.

Falando em motivação, buscar em nós mesmos o motivo para cada objetivo é extremamente importante para a manutenção de um comportamento. Eu, por exemplo, frequentemente coloquei na minha lista “praticar atividade física”. Imagino que seja quase uma meta comum, certo? Acontece que minha relação com exercícios físicos sempre foi tão prejudicada, minha rotina tão cheia e horários tão limitados e motivações tão longe dos meus valores que até pensar sobre isso me trazia dor. Era invadida por discursos de “é só questão de prioridade” ou “o dia tem 24 horas para todo mundo”, então a autocobrança vinha com força e tudo caia por terra.

Hoje, depois de me sentar com minhas dores e valores, olho meu corpo com carinho. Ele passou por muitas coisas no ano que passou, incluindo a descoberta de uma doença autoimune. Ele vinha dando sinais de que algo não estava bem, mas como muitas vezes meu olhar para ele foi estético, os sinais marcadores de saúde foram deixados de lado. As mudanças neste ano, tanto no aspecto de atividade física como no de alimentação, por aqui ganharam um significado muito maior. Os benefícios também não demoraram a aparecer, me ajudando nos dias que o desânimo e o cansaço falaram mais alto.

Por último, fico pensando que tão importante quanto olhar para a construção do futuro é olhar para o presente e passado: o que foi extremamente bacana esse ano que dependeu de mim? Do que me orgulho? Qual hábito gostaria de continuar? Esses e outros questionamentos podem ser um norte importante para as reflexões.

Apesar desse texto ser escrito em um início de ano em janeiro, em que as expectativas estão altas, não custa lembrar que essa reflexão não é exclusiva de novembro, dezembro, janeiro ou fevereiro. Não existe data para a mudança, assim como não existe data para a dor. Se esse período de festas e férias for difícil para você por qualquer motivo que seja, não há problema nenhum em adiar um pouquinho as reflexões. A vida continua depois das épocas festivas, assim como as reflexões. O hábito de refletir, sentir e avaliar é para sempre!

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