Decidi escrever esse texto a partir de uma conversa com uma amiga, que me relatou que estava buscando por um (a) novo (a) profissional de psicologia para iniciar um processo de psicoterapia. No meio de algumas perguntas sobre abordagens e detalhes, ela me confidenciou que se sentia insegura – e de certa forma achava doloroso – relatar todos os problemas que ela tinha, ainda mais se fosse agendar primeiras consultas com profissionais diferentes e tivesse que relatar mais de uma vez a mesma coisa. Essa insegurança já se passou por aí?
Eu gostaria de trazer algumas reflexões por aqui, e já adianto que esse texto não tem intenção alguma de fornecer um script ou dizer o que é certo e errado em uma primeira sessão, combinado?
A primeira coisa que fico pensando é que muito embora nós psicólogos e psicólogas sejamos profissionais capacitados, não podemos esquecer que pode ser sua vez fazendo psicoterapia, ou pelo menos fazendo psicoterapia conosco. O que isso significa na prática? Significa que não é esperado que você se sinta confortável de se abrir e contar absolutamente tudo sobre você. Se acontecer é um bônus, mas de qualquer maneira, pode não ser o natural.
Me lembro de estar conversando com minha mãe quando era adolescente sobre o desconforto que tinha de ir ao ginecologista, independente do gênero. Embora racionalmente eu soubesse que a pessoa examinava mulheres praticamente todos os dias e que era profissional, ainda me parecia estranha a ideia de ficar completamente nua e exposta a uma pessoa completamente estranha para mim. Consegue se identificar com essa sensação? Bom, contar sobre nossas emoções mais dolorosas e sobre nossa vida pode despertar a mesma sensação de exposição e insegurança.
Dito isso, gostaria de trazer um outro ponto: você já observou que você se sente mais ou menos confortável de falar sobre você a depender de quem é a pessoa que está ouvindo? Podemos ter vários amigos ou familiares, mas não é exatamente com todo mundo que nos sentimos confortáveis de desabafar, certo?
Penso que o mais importante, em uma primeira sessão de psicoterapia, é que você identifique se você se sente confortável em conversar com aquela pessoa, se você se sente acolhido, ouvido e não se sente julgado. Em termos populares, identificar “se o santo bate”. Existem diversos estilos de psicólogos, abordagens e idades, então é perfeitamente possível que você possa sentir dificuldade de se sentir à vontade com determinada pessoa, e está tudo bem! A relação com o (a) psicólogo (a) é como qualquer outra, precisa haver uma construção, identificação e conexão para ocorrer.
“Mas Bruna, sobre o que eu falo então na primeira consulta?”
Como fiz o paralelo com minha ginecologista lá em cima, gostaria de pontuar: cheguei na minha primeira consulta ginecológica apreensiva e insegura. A médica foi guiando a consulta, conversando comigo, fazendo perguntas e tirando uma série de dúvidas que eu havia na época. Me lembro de sair dessa consulta com uma sensação de alívio e feliz com a confiança que havia construído nela.
Então, se você estiver inseguro sobre o que falar, pode deixar que o profissional te guie e conduza mais a sessão em um primeiro momento, afinal ele é o profissional e está acostumado com isso!
Além disso, você pode utilizar desse primeiro momento para tirar suas dúvidas sobre como funciona o processo de psicoterapia, compartilhar o que já ouviu sobre fazer terapia, questionar sobre como ele trabalha, contar um pouco sobre seus objetivos, sobre outros processos de psicoterapia que já teve… a lista de possibilidades é enorme.
O importante é que seja natural, que você esteja aberto (a) para conhecer a pessoa que está na sua frente, e só fale sobre o que se sentir confortável e seguro. Como mencionei acima, não existe certo e errado. Existe o que faz sentido para você naquele momento.
E se por acaso você não se sentir confortável na primeira vez, leve o tempo que for, mas tente dar outra chance para outro profissional se fizer sentido para você! Temos muitas pessoas e profissionais nesse mundo, tenho certeza de que irá encontrar alguém que te faça sentir confortável em algum momento.
