“Pensamento intrusivo” é um dos termos que mais tem sido usados para memes – e um dos do que mais tem me feito dar risada, honestamente. Geralmente são memes como “eu se deixasse meus pensamentos intrusivos vencerem” ou “POV: quando o pensamento intrusivo vence”, e o resultado é sempre algo inusitado (e engraçado), mas completamente fora do habitual.
É engraçado também ver como cada vez mais estamos nos dando conta que pensamentos existem, e que a depender de como nos relacionamos com ele, eles influenciam nos nossos comportamentos. E se você leu isso agora e pensou “mas não era óbvio isso?”, senta aqui comigo para pensarmos juntos no que quero dizer.
A primeira coisa que gostaria de pontuar é que pensamentos não podem ser controlados. Quer ver? Eu gostaria que agora você NÃO pensasse em um urso vermelho. Conseguiu não pensar? Vamos tentar de novo… agora, se esforça para não pensar em um bolo de chocolate. Não pensa!
Eu poderia apostar com você que você falhou nas duas tarefas que eu te dei agora, não é? Pois é, os pensamentos são assim mesmo, incontroláveis. Bom, a péssima notícia é essa. Quanto mais tempo nos ocupamos de tentar controlá-los, mais tempo de vida nós perdemos, e mais frustrados podemos ficar.
A boa notícia aqui é que quanto mais nos convencemos do fato de que é impossível controlar e modificar pensamentos, mais podemos nos distanciar deles com cuidado, e de certa forma, com curiosidade.
Os nossos pensamentos estão na nossa cabeça 24 horas por dia, e nós convivemos com eles o tempo todo. Nós podemos não ter notado, mas eles influenciam em nossos comportamentos e nas interpretações que fazemos sobre as pessoas à nossa volta. Além disso, pensamentos têm o poder de nos fazer sentir e experimentar sensações que podem influenciar o nosso dia. Se você já teve o seu dia invadido por uma lembrança extremamente dolorosa que mudou o curso dos seus sentimentos sabe do que estou falando, e eu já passei por isso diversas vezes.
Os pensamentos podem contar várias histórias diferentes: podem ser catastróficos e sempre prever o pior cenário possível; podem checar toda e qualquer atitude que você toma no trabalho para saber se foi certa ou errada; podem te contar que você não é boa (ou bom) o suficiente e que vai falhar constantemente; podem interpretar atitudes das pessoas que você ama de maneira diferente do que elas tentaram fazer ou dizer; podem também contar que você está incomodando seus amigos quando vai conversar com eles; podem contar que se você for a uma academia todo mundo vai notar que você está acima do peso e que não sabe mexer nos aparelhos, e assim por diante. Consegue pensar se algum dos seus pensamentos recorrentes estão neste parágrafo?
Os pensamentos que mais aparecem na sua cabeça muito provavelmente não apareceram do dia para noite, e muito tem a ver com o contexto em que eles aparecem, mas além disso, tem a ver com sua história de vida. Pensar do jeito que você pensa hoje teve uma função na sua vida, e os pensamentos não vão embora quando eles não são mais úteis, eles permanecem.
Bom, o que quero dizer com tudo isso? Algumas coisas, na verdade. A primeira é que sem ter a consciência de como seus pensamentos te afetam, é muito difícil ter plena consciência e escolher seus comportamentos. A segunda é que brigar com eles e tentar pensar positivo é fazer mais do mesmo: é dar poder a eles, de maneira que fiquemos presos gastando tempo com algo que não modificamos. E terceiro: se eles tem trazido sofrimento intenso e tem desviado você do que você quer para sua vida, é importantíssimo que você busque por ajuda.
Quando eu insisto em dizer sobre a importância do autoconhecimento, é a isso que me refiro. Entender sobre sua história de vida te dá um poder muito grande de olhar para certos pensamentos e sentimentos e o que fazer com eles, de forma com que eles existam na sua experiência de vida enquanto você constrói uma vida baseada nos seus valores, em como você quer ser para as pessoas que você ama, em como você quer ser como profissional, em como cuida da saúde, e como constrói a vida que faz sentido para você, independente de como sua cabeça escolhe pensar hoje.
Lá em cima eu falei sobre bolo de chocolate, certo? Vamos usar dele como exemplo? Pois bem, agora eu quero que você o imagine bem molhadinho, fofinho, com aquela cobertura bem brilhante e lisinha, extremamente cremosa. Se você assim como eu gosta de chocolate, ficou com vontade de um agora. E bom, você é livre para fazer o que quiser a partir desse pensamento. Não ir atrás de um bolo agora, apesar de ter ficado com vontade, afinal você tem controlado sua ingestão de açúcar; ir atrás de um bolo nos aplicativos de entrega de comida, afinal você tem esse dinheiro e adora doce; ou simplesmente fechar esse texto e continuar vivendo sua vida, como se nada tivesse acontecido.
No exemplo acima a situação pode não parecer extremamente complexa, mas na nossa vida ele aparece de diversas formas diferentes e nós nem nos damos conta que estamos pensando, e assim tomamos decisões com base neles sem perceber. É complexo, não é?
E você, já observou seus pensamentos por aí? Se eles fossem uma série ou filme, que história eles te contariam?