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Compreendendo a Ansiedade: Como o cérebro responde ao medo do futuro

Pensar constantemente no futuro, sempre contar com o pior cenário, sentir o coração acelerado e a respiração mais curta, temer o futuro ou considerá-lo perigoso, interpretar atitudes dos outros sempre negativamente, e se perceber em qualquer lugar, menos no aqui e agora: você já sentiu isso?

Se você, assim como eu, já sentiu qualquer uma dessas coisas sabe o quão assustador é passar por isso, ainda mais quando acontece com frequência. Uma das maneiras de lidar com isso é entender um pouco mais de como funciona nosso cérebro, e o que é a temida ansiedade.

A ansiedade é uma emoção, assim como tristeza, tédio, alegria e raiva. A ansiedade é conhecida como uma emoção que está sempre olhando para o futuro: ela quer antecipar todo e qualquer tipo de perigo que possa ocorrer lá na frente, e que interfere no corpo e no comportamento de quem a sente.

Sentir essa emoção não necessariamente é um problema, assim como sentir ansiedade não é o mesmo que dizer que você tem um dos Transtornos de Ansiedade. Dentre os Transtornos de Ansiedade, alguns exemplos são: ansiedade de separação, transtornos de ansiedade, fobias específicas, transtorno de ansiedade social, transtorno do pânico, agorafobia, dentre outros.

Antes que você saia se autodiagnosticando ou pesquisando cada um dos transtornos no Google, devo alertar que são muitos os critérios para um diagnóstico (que só deve ser feito por um profissional capacitado), e que depende: da intensidade e frequência que essa emoção aparece, fatores genéticos e ambientais, qual o comprometimento na vida do paciente, e exclusão de outras doenças e/ou substâncias que possam causar os mesmos sintomas.

Bom, se nem todo mundo tem de fato um transtorno, por que praticamente todo mundo a nossa volta se sente mais ansioso? Existem inúmeros motivos, na verdade.

Primeiro, dizer que é uma emoção implica também em dizer que nosso cérebro, que tem como função nos manter vivos, reage a certos estímulos entendendo algo como perigo, e deixa nosso corpo em alerta, causando sintomas físicos como suor, taquicardia, dificuldade para respiração, tremores, formigamento, tensão muscular etc. Ele prepara seu corpo para lidar com qualquer tipo de perigo que possa vir.

Muito embora qualquer outra emoção também seja manifestada no corpo, as reações fisiológicas da ansiedade são facilmente percebidas: a liberação de certos neurotransmissores e hormônios faz com que o corpo possa ativar o sistema de luta e fuga. Se você já passou ou conhece alguém que já experimentou um certo grau ansiedade e não sabia no momento, achou que estava falecendo ou que tinha algo de muito errado com o corpo.

Segundo, nossos hábitos nunca estiveram tão desalinhados com o nosso corpo e a nossa natureza: nós deixamos de dormir quando escurece e acordar quando o sol nasce; nos alimentamos com o que é mais rápido e prático, não com o que nosso corpo precisa; vivemos com telas o tempo todo; temos acesso ao mundo inteiro, gerando preocupações e inseguranças políticas e econômicas; temos absolutamente tudo à nossa disposição do jeito que queremos e em uma velocidade absurda: não esperamos mais um comercial acabar para ver televisão, bem como assistimos tudo acelerado, além de conseguir com alguns cliques fazer com que comida chegue na nossa porta; nos comparamos com pessoas do mundo inteiro sem saber sobre os bastidores da vida delas;  fazemos cada vez menos atividades físicas, ou só nos preocupamos com estética; e somos incitados a sempre estar produzindo mais e melhor, dentre inúmeros outros fatores.

Além de tudo que citei, que se refere ao social e nossa cultura, temos também fatores individuais, que dizem respeito à nossa própria história de vida. Dependendo de como fomos criados, de quais são os nossos medos e preocupações, de quais são as nossas dores, do que nosso cérebro entendeu como perigo, de como lidamos com a imprevisibilidade da vida, cada um de nós vai experimentar essa emoção de uma maneira.

De qualquer maneira, é fundamental que tenhamos que aprender a lidar com o medo do futuro. É primordial que a gente consiga reconhecer quando nossos pensamentos nos jogam em um mundo de possibilidades perigosas. É imprescindível que a gente entenda que algumas reações do nosso corpo não significam que ele está entrando em colapso, e sim tentando nos proteger.

Inclusive, uma das vias de tratamento é utilizar do nosso córtex pré-frontal, que é a região do cérebro responsável por analisar as situações, planejar estratégias, definir metas, e nos trazer de volta para a realidade.

Por fim, independente de você ser diagnosticado (a) com um dos transtornos, ou se você tem dificuldade de lidar com a emoção, é necessário dizer: o problema não é sentir a ansiedade, e sim que ela te impeça de viver. A emoção em si é até importante para nos colocar em movimento, ela não se torna patológica só por ser desconfortável.

O problema é quando ela nos paralisa, atrapalha nossas relações, nos impede de começar um projeto novo por medo de dar errado, nos faz abusar de qualquer coisa pra amenizar a situação, e nos distanciem da vida que queremos viver. É frequente que pessoas que tenham dificuldade de lidar com a ansiedade deixem de lado o sono adequado, evitem interações sociais e adotem comportamentos prejudiciais como forma de compensação, o que resulta em um ciclo vicioso que piora sua situação. A relação entre o funcionamento do cérebro na ansiedade e no estresse ajuda a entender por que os transtornos de ansiedade que não são tratados muitas vezes se transformam em depressão. Caso você se identifique com isso, busque ajuda de um profissional.

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