Esses dias, enquanto assistia aos stories de uma influenciadora que gosto muito de acompanhar pelas dicas de nutrição, moda e beleza, li uma mensagem na caixinha de perguntas que ela recebeu dizendo: “você é minha terapeuta”. Quando li, fiquei muito curiosa com o motivo pelo qual a pessoa que mandou essa mensagem associa uma influenciadora que ela segue no Instagram com a psicoterapia.
Veja bem, eu fico imensamente feliz que as pessoas associem que psicoterapia é o mesmo que se sentir bem, e percebo isso quando ouço coisas como “minha terapia é a academia”, ou “quem precisa de terapia quando se tem amigos”. Antigamente era comum de se escutar que psicoterapia era apenas para quem era considerado “louco”, então com certeza já estamos no lucro.
No entanto, e correndo o risco de parecer chata ou implicante, eu gostaria muito de esclarecer um pouco de como funciona a psicoterapia, de uma maneira bem simplificada e resumida.
Em primeiro lugar, é importante dizer que independente de qual seja sua queixa ou de que você espera conseguir com a psicoterapia, um dos resultados que você terá é o de conhecer a si a mesmo. Bom, apesar de parecer bem bonito o termo, o que quero dizer em linhas gerais é: precisamos entender quem você é e como se comporta.
Todos nós temos padrões de comportamento que são reflexo de tudo que aconteceu e acontece em nossas vidas, desde o nosso nascimento até os dias atuais. Isso acontece porque comportamento é aprendizado. Sabe quando dizemos algo como “a personalidade de fulana é forte”? Aqui, podemos entender que “personalidade” é a soma de todos esses padrões de comportamento.
Inclusive, é extremamente comum que em terapia, os clientes comecem a se dar conta que de repente, uma dificuldade que ele está enfrentando no trabalho com seu chefe é bem similar às dificuldades de relacionamento romântico que ele se deparou na vida, afinal mesmo sendo áreas diferentes e que demandem comportamentos diferentes, somos um indivíduo só com um repertório só.
Falando em repertório, uma das coisas que aprendemos em psicoterapia (me incluindo aqui como uma pessoa que fez e faz psicoterapia também) é como ampliar esse repertório, e parar de emitir comportamentos que não fazem mais sentido com o que acredito ou com o que preciso.
Observe uma coisa importante aqui: olhar para quem você é nos permite entender o que está acontecendo hoje, e qual o caminho para a mudança. É importante ressaltar que o que nós aprendemos ao longo da vida não necessariamente é como nós queremos viver. Sem a consciência do que fazemos hoje, é muito difícil que a gente consiga prever e intencionalmente modificar qualquer comportamento, em qualquer área da vida.
O (a) psicólogo (a) com todo conhecimento teórico e técnico vai te guiar nessas descobertas e te ajudar a entender e analisar seu comportamento. Através de perguntas bem direcionadas e estratégicas, de observações sobre sua fala e seu comportamento, além de pedir para que você observe alguns comportamentos fora de sessão também, vai te ajudar a montar esse quebras cabeças para que juntos vocês entendam quem você aprendeu a ser e como aprendeu a se comportar.
Além disso, em psicoterapia nós também olhamos muito para pensamentos e para as emoções. Não é à toa: nossos pensamentos têm influência sobre nossos comportamentos, e muitas vezes não nos damos conta de que nossa cabeça está falando, e podemos interpretar a realidade a partir dela. Nossos medos, ansiedades, pouca tolerância ao desconforto e traumas, podem nos afastar do que é importante para a gente, independente de ser uma oportunidade de trabalho, uma relação nova, ou conquistar hábitos mais saudáveis.
Bom, perceba que em nenhum momento eu usei a palavra conselho. Pois bem. Não cabe ao psicólogo aconselhar sobre qualquer coisa, uma vez que ele usa de teoria para analisar a situação junto com você, bem como de intervenções técnicas, e nada disso passa pela sua opinião. A palavra conselho dá a ideia de opinião, de aviso sobre o que deveria ser feito, bem como de dar dicas e sugestões. Faz sentido que nada disso seja o papel do psicólogo? O psicólogo te ajuda a pensar nas consequências das decisões, analisa junto com você os caminhos, aponta os efeitos do seu comportamento, mas não emite opinião e não decide por você. Inclusive, uma das consequências da terapia é que você tenha autonomia e consciência para tomar suas próprias decisões, bancando todas as possíveis consequências.
Além disso, quando as pessoas falam que o exercício físico que ela faz, o hobby que ela tem, ou a influenciadora que ela segue no Instagram são a terapia dela, temos mais problema: a terapia não existe para que você se sinta bem e relaxado. É um trabalho em conjunto, é um trabalho de análise, de reflexão, único (cada um tem uma história de vida), e que pode esbarrar em áreas dolorosas para você, além de exigir de você uma dedicação para colocar em pratica o que é aprendido nas sessões. A terapia exige comprometimento e disposição para enfrentar a dor e o desconforto, o que pode ser desafiador, mas é essencial para o crescimento pessoal. A terapia te ajuda a entender quem você é hoje e quem você quer se tornar no futuro.
Mas claro, se você tiver um hobby que te faz bem, uma atividade física que te desestresse, ou até mesmo que siga pessoas nas suas redes sociais que estão alinhadas com seus valores, eu fico muito feliz por você. A terapia é parte da vida, mas não substitui os amigos, os prazeres, a família, o cuidado com o corpo, etc. Pelo contrário, te ajuda a viver tudo isso de maneira mais satisfatória.